segunda-feira, 7 de janeiro de 2019

Burocracia

Lucid Dreams
Queria apanhar o comboio que estava prestes a partir. Dirigi-me ao gichet de venda de bilhetes para comprar o meu bilhete e de repente olhei em volta:
-Será que são apreciadores do estilo dos anos 40? Que raio de decoração é esta?
A senhora de dentro da bilheteira diz-me que não era possível vender-me o bilhete porque eu não tinha os documentos necessários. Para os conseguir teria de me dirigir ao andar superior do edifício.
Subi.
O edifício era grande, rectangular e tinha 5 andares. O lance de escadas era fatigante e os degraus eram de mármore branco com fios cinzentos irregulares que se entre cruzavam.
O 1o andar tinha uma placa que dizia 1950.  A senhora do gichet de atendimento era fisicamente idêntica à do rés-do-chão onde estivera minuto atrás.
Parece que os documentos que eu tinha teriam de ser tratados no piso acima novamente.
- Começa o jogo do empurra.
 Lá fui eu. Subi cinco pisos ouvindo o mesmo conselho em todos os balcões de atendimento.
 Todos os pisos tinham uma placa com um número e cada número datava uma década do século XX. O último andar, o 1990, foi onde finalmente conseguir regularizar os documentos. Afinal tudo o que era preciso era a porcaria de um carimbo azul.
 Senti-me satisfeito e achei alguma piada ao facto de ter despachado um assunto incómodo no piso com a placa do meu ano de nascimento. Sorte? Talvez...
Estava com pressa, comecei a descer as escadas. Mal colocados os pés nos primeiros degraus uma qualquer força que se traduzia em numa ventania de mil mãos me arrastou para os corredores e escadas do edifício. Era como se me empurrassem a uma grande velocidade.  Eu percorri todos os pisos daquele sítio.
 Em cada piso consegui ver a minha figura.
Em 1990 vi toda a minha vida fluir em sentido contrário até ao meu nascimento.
Nos outros pisos vi os meus pais, os meus avós todos sendo observados por uma sombra que em vez de ser escura era branca, luminosa e absorvia a escuridão ...
Só me abandonaram na entrada da plataforma de estação.
Estava enjoado, confuso e com grandes tonturas. Manter-me em pé era difícil. Previ que viria uma enxaqueca forte, daquelas que nos cegam de tanta luz.
Corri como me foi possível, entre tropeções e quedas até ao comboio mas infelizmente não o consegui alcançar.
Frustração.

Se tivesse entrado naquele comboio não estaria aqui agora a escrever.

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