domingo, 15 de maio de 2011
As Horas(filme) e as emoções (dentro da psicologia)
No filme “As horas” encontra-mos a história de três mulheres, Virgínia Woolf, Laura Brown e Clarissa Vaughn, que em diferentes épocas vivênciam uma grande diversidade de emoções, desde o intenso desejo de suicídio, passando pela vontade de fuga e mudança ate á frustração e impotência. O elemento de ligação entre todas elas é a obra Mrs. Dalloway escrita por Virgínia Woolf na qual se narra uma situação semelhante á das personagens do filme: a compra de flores e toda a organização de uma festa para alguém que lhes é querido.
Virgínia Woolf , uma brilhante escritora sente uma enorme tristeza para a qual só encontra como resposta o suicídio, Laura Brown é uma dona de casa, mãe de um rapazinho (Richard), grávida, que não é feliz com a vida que leva e que após o nascimento da filha abandona a sua família e parte para viver uma nova vida da qual mais tarde se arrepende, Clarissa Vaughn é a editora do livro. Pretende dar uma festa para um amigo com quem teve no passado uma relação amorosa e por quem sente grande afecto mas este decide tomar, poucas horas antes da festa uma importante decisão na sua vida, dando-lhe fim e deixando Clarissa completamente destroçada e frustrada por não ter feito mais por ele.
Como verificámos no filme, as emoções são reacções que podemos observar ( públicas) e geralmente de duração reduzida. Podemos afirmá-las como sinais emocionais que de certa forma nos permitem formar comunicação e atribuir-lhes um valor adaptativo como indicador de vários estados. Associados ás emoções encontram-se valores, ideias e princípios e que se relacionam com a nossa história de vida e significados.
As emoções podem ser despoletadas por acontecimentos, situações, pessoas e etc, que nos levam a pensar no objecto nem sempre conscientemente; A obra de Virgínia Woolf esteve sempre presente nas três personagens influenciando-as de certa maneira visto que a sua leitura(escrita no caso de Virgínia) originou o despertar de emoções que levou as personagens a buscar em si o significado para as suas próprias vidas.
Experiência subjectiva que é a emoção, pode ser esta acompanhada por reacções orgânicas( suores, tremores, tensões musculares...), gestos, movimentos, expressões corporais e orais e revelando uma grande tendência para a acção(pode ser o caso da fuga em que o factor desencadeante será o sistema limbíco). No filme, as três personagens demonstram a sua tristeza através da apatia, choro e nervosismo.
As suas principais características(emoções) são o tempo de duração, a sua intensidade baseada no efeito que esta nos causa, as alterações corporais já referidas anteriormente, as suas causas e objectos, a sua versatilidade(surgem e desaparecem), a polaridade positiva ou negativa alternando a sua intensidade, as reacções a uma experiência vivida e a interpretação dos factos. Richard, interpretou sempre o facto da sua mãe ter abandonado o lar quando ele era criança como sendo culpa da falta de diálogo entre esta e o seu pai. Apesar disso nunca escapou ao facto de viver sempre com a mágoa de ter crescido sem aquele apoio maternal e de imaginar que talvez o seu destino tivesse tido outro rumo.
Segundo António Damásio podemos classificar as emoções como: Primárias - onde se incluem o medo, a cólera, a alegria, surpresa, nojo e aversão. Estas denominam-se primárias pois correspondem a emoções surgidas na nossa infância; são inatas e entendem-se por respostas a estímulos internos e externos.
Secundárias – são a culpa, vergonha, ciúme, orgulho... chamam-se secundárias na medida em que são originadas por uma avaliação cognitiva( pensar) baseada em aprendizagens adquiridas e como tal pertencem ao nosso período de vida da idade adulta.
As emoções de fundo são responsáveis pelo bem-estar, mal-estar, tensão, nervosismo e calma. Inerentes ao Ser individual fazem parte do nosso temperamento.
As emoções tem seis componentes: cognitiva- o conhecimento do facto ,avaliativa- reacção baseada em princípios e valores, fisiológica- alterações corporais, expressiva –expressões corporais que pretendem estabelecer comunicação, comportamental –através do comportamento que pode ser violento e ofensivo, quer físico quer verbal e subjectiva- trata-se dos afectos que estão ligados ás emoções.
Todas estas componentes das emoções estão interligadas entre si sendo que todas se influenciam mutuamente. O comportamento de determinado indivíduo pode variar entre estas componentes mediante a previsão das consequências.
A maneira como respondemos a várias situações diferentes varia de indivíduo para indivíduo. Por exemplo o stress desempenha o papel de resposta a acontecimentos que perturbam o nosso estado de bem-estar Poderá o stress ser positivo nos casos em que é necessário agir ou impedir o excesso de confiança mas também será negativo quando entendido como uma ameaça, aí irão desenvolver-se respostas orgânicas e psicológicas. Pode ser potenciado pela nossa identidade em constante mudança , o devir e o meio que nos rodeia; Quando superadas estas situações de stress, originar-se-ão um crescimento da nossa identidade e a um amadurecimento emocional. As respostas orgânicas englobam a divisão dos sistemas simpático e parasimpático do cérebro e é apelidada de fase de alarme que prolongada no tempo( fase de resistência) pode provocar doenças físicas( a situação de burn-out / esgotamento nervoso).
O comportamento decorrente de uma resposta psicológica que resulta numa resposta comportamental (palidez, agressividade, irritabilidade) e emoções tais como a ira, frustração, raiva... que depois de passado algum tempo, ainda permanecem em nós levando-nos a pensar na situação (resposta cognitiva).
As emoções estão do mesmo modo associadas á razão pois se não possuísse-mos emoções ,não teríamos a capacidade de decidir. As emoções servem assim de orientação para as tomadas de decisão assim como o nosso estado somático.
A decisão de suicídio foi pensada com a ajuda das emoções e da razão. Virgínia Woolf, por exemplo, sentia que a sua vida não tinha sentido porque tinha dúvidas quanto á sua identidade. Identifica-mos esta personagem ás emoções de stress, mais propriamente na fase de burn-out.
Laura Brown, depois de reflectir sobre o seu suicídio, chegou á conclusão de que não era capaz de o levar a avante pois o que ela verdadeiramente almejava para si era poder experiênciar uma vida diferente da que levava até então, decidindo partir e também porque estava grávida. Laura baseou a sua decisão nas emoções( tristeza, angustia, desejo de evasão...), razão( tentou prever as consequências que daí viriam) e em factores somáticos( gravidez)
Clarissa Vaughn , dedicou grande parte da sua vida a outra pessoa( Richard) vivendo em função desta e esquecendo-se totalmente de si. Acabou tornando-a o ponto crucial da sua existência e usou-a como fuga para não admitir a si mesma que a sua vida era monótona e que nem ela própria conhecia os seus potenciais. Tentou por assim dizer, evitar situações de stress ignorando as suas emoções como se tal fosse um anestésico.
Richard é puramente infeliz. Sofre por ter sido abandonado em criança pela mãe, sofre por ser seropositivo e sofre sobretudo por se sentir um fardo na vida de todos os que o rodeiam. Sabe que é o motivo de Clarissa viver e que isso a impede de viver plenamente a sua individualidade. Sente-se alvo de pena para os outros e chega até a menosprezar o seu talento afirmando que ninguém apreciou o seu livro e que apenas ganhou um prémio devido ao facto de ser doente. O seu suicídio denota que para além todas as emoções que guardava em si reflectiu bastante e concluiu que eram poucas as razões para continuar a viver: não tinha família, era um empecilho na vida de Clarissa, era seropositivo (pouco tempo de vida lhe restava) e mantinha sempre presente no seu intimo a dor do abandono da mãe em criança, que no fundo ele pressentira no dia em que a mãe o deixara entregue a uma vizinha e saiu para um quarto de hotel na intenção de terminar com a sua vida.
.As emoções desempenham um papel crucial na comunicação e adaptação entre seres humanos, possuem várias componentes associadas entre si e demonstram uma grande importância entre a razão e emoção e no processo de tomada de decisões( segundo António Damásio)
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